Musicar um “latim-caboclo” – “Bendita Aié” é o título da primeira reza, destacando uma característica importante do ritual, a presença de um sotaque regional numa manifestação originada no catolicismo popular. Ao receber a encomenda da obra pela Secult-PA, Luiz Pardal assistiu a vídeos, ouviu os cantos e achou muito interessante aquela combinação de elementos da cultura local com uma religião milenar. O compositor decidiu preservar as melodias originais dos cantos, que são entoadas pelo coro. O trato orquestral fornece uma roupagem especial às vozes. “Eu não quis mexer. Peguei células musicais, o contorno melódico, intercalei com partes instrumentais e partes cantadas”, afirma Pardal. Foi na harmonia baseada nos ditos modos gregos, utilizados na Baixa Idade Média como referência de teorização e organização do sistema musical da liturgia católica, que o compositor encontrou a sonoridade que mais se destaca na composição. Ao final, Pardal batizou a criação de “Réquiem”, um gênero musical criado para cerimônias fúnebres na música de tradição europeia.
Uma alteração estrutural no ritual levou Luiz Pardal a reformular a estratégia em relação ao coro: “Na época, esse movimento religioso era só cantado por homens, hoje em dia, já fiquei sabendo que existem mulheres, é por isso que estamos fazendo, agora, com coro misto”. Essa é uma das novidades que os ouvintes poderão conferir no concerto do dia 15 de abril, que será a segunda apresentação da obra. Aqueles que não conhecem o rito da “Encomendação das Almas” terão a chance de ouvir um aspecto central dele, que são as gravações com as próprias vozes dos rezadores. Elas irão abrir cada um dos 4 movimentos da obra musical. Sem dúvida, será uma oportunidade única de presenciar um grande espetáculo que coloca em evidência uma singular manifestação religiosa, viva há mais de um século na Amazônia.
Serviço
Concerto “Réquiem Encomendação das Almas” (Luiz Pardal)
Madrigal, Coro Comunitário e Camerata da Emufpa
Quando – 15/4, às 19h
Local – Igreja de Santo Alexandre: Praça Frei Caetano Brandão, s/n.
Entrada franca
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