TÍTULO DE DOUTORA HONORIS CAUSA À DIRA PAES
O dia 02 de outubro de 2025 foi muito importante para o Instituto de Ciências da Arte (ICA – UFPA), em razão do título de Doutora Honoris Causa concedido a Dira Paes. Tal iniciativa originou-se no curso de Cinema e Audiovisual, da Faculdade de Artes Visuais.
Referência em cinema e audiovisual na Amazônia, Ecleidira (Dira) Maria Fonseca Paes é a segunda mulher a receber esse título. Há 39 anos, a primeira foi a cientista Maria P. Deane, da área da saúde, em 11 de novembro de 1986.
Segundo parecer emitido pelo Professor Titular da Faculdade de Artes Visuais e do Programa de Pós-Graduação em Arte, do ICA, Afonso Medeiros,
[...] o título de Doutor Honoris Causa é outorgado pela instância máxima da Universidade Federal do Pará desde 1960, perfazendo um total de 23 títulos concedidos por seu Conselho Universitário (CONSUN). Além dessas duas mulheres, Dira Paes e Maria von Paugartten Deane, dos demais 22 agraciados e refletindo os paradoxos da história recente do país, não nos passa desapercebida a presença de militares e religiosos entre notórios profissionais das ciências da natureza e das ciências da cultura. Tal memória, que pontua dimensões políticas na outorga do título honorífico, não pode deixar de ser avocado na medida mesmo em que a presente solicitação traz como justificativa a “defesa das populações tradicionais da Amazônia, da proteção ambiental e dos direitos humanos”, que caracteriza a trajetória da homenageada. Outra característica importante a ser pontuada nesse histórico, é o fato de que Dira Paes seria a primeira profissional das artes (cênicas e audiovisuais) a receber o título. [...] além da dedicação incontestável aos fazeres e saberes teatrais, cinematográficos e televisivos – se deve, no campo estético, a uma certa representatividade verossímil de amazônida que Dira Paes assumiria no imaginário e na imaginária nacional e internacional. Consciente ou inconscientemente assumindo tais imaginários, o trabalho multifacetado da atriz vai além: no conjunto da obra, apropria-se desse mesmo imaginário para reconfigurar uma certa imaginária sobre a brasilidade, qual seja, aquela que insiste na invisibilidade cultural das outras matrizes culturais que nos (con)formam. Ao longo das últimas quatro décadas, a presença de Dira Paes nas dramaturgias nacionais faz exatamente isso: torna patente as interseccionalidades dos brasis. É sob essa perspectiva estética dos brasis (atravessada por sua carreira), que Dira Paes reconhece seu papel de figura pública pautada pela ética, pronunciando-se sempre em favor da diversidade e da igualdade nas políticas públicas – dir-se-ia que a artista é, “em honra da causa”, também uma artivista na mais profunda acepção do termo. Por fim, não se pode deixar de colocar em relevo o fato de que as artes às quais Dira Paes se dedica são todas artes do grupo, do coletivo, da interdependência e, assim, junto com ela distingue-se um modo humano, demasiadamente humano, de pensar e fazer cultura. Não é, justamente, este “pensar e fazer com” os pares (e não só “pensar e fazer sobre”) que caracterizaria a constituição do conhecimento numa universidade digna deste nome?
Aprovada unanimemente pelo Conselho Universitário (CONSUN) a referida outorga do Título de Doutora Honoris Causa à Dira Paes, agracia o Instituto de Ciências da Arte, a Universidade Federal do Pará e a o campo das a artes no âmbito nacional e internacional.
FOTOS: Alexandre de Moraes
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